Governador do Paraná, Ratinho Jr / Crédito: Divulgação/Governo do Paraná |
Ratinho Jr. avalia abrir mão de candidatura presidencial e mexe em tabuleiro para 2026

Ratinho Jr. avalia abrir mão de candidatura presidencial e mexe em tabuleiro para 2026

Governador é único da direita que vem crescendo nas pesquisas nacionais, mas tem demonstrado inclinação a ficar no Paraná


Daniel Marcelino, Fabio MuraKawa, Beto Bombig

O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), avalia seriamente a possibilidade de recuar da corrida ao Planalto, na qual despontava como um dos nomes com bom potencial no campo da direita.

Embora algumas fontes já considerem a desistência como certa, inclusive informada à sua família, outras afirmam que a decisão não está tomada e que Ratinho Júnior ainda vai conversar com Gilberto Kassab, presidente nacional do seu partido, para definir seu futuro. O plano é que a conversa ocorra nos próximos dias.

Informações de bastidores dão conta de que o governador paranaense está preocupado com o cenário da sua sucessão e que, por isso, passou a ficar mais inclinado a permanecer no cargo até o fim do mandato para concentrar sua articulação na disputa estadual.

Também estaria pesando um incômodo do pai, o empresário e apresentador Ratinho, com eventuais impactos de uma candidatura presidencial nos negócios da família.

A avaliação no entorno do governador é que, mantendo-se no Palácio Iguaçu, o governador paranaense teria condições melhores para atuar e conter o avanço do senador Sergio Moro (União Brasil) -hoje líder nas pesquisas e pré-candidato ao governo- e fazer vingar o nome de um aliado.

Impactos nacionais

A eventual saída antecipada de Ratinho Júnior do tabuleiro nacional tem potencial para redesenhar as articulações da sucessão presidencial. De um lado, enfraquece o campo de lideranças que buscava construir uma candidatura de direita mais próxima ao centro, capaz de romper a lógica da polarização entre lulismo e bolsonarismo, em vigor no país desde 2018.

O governador paranaense tem sido visto como uma espécie de Plano B de boa parte do empresariado, sobretudo do setor financeiro, que tem em Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, o nome preferido para a disputa ao Planalto no campo da direita.

Apesar de ter sinalizado disposição para disputar o Planalto desde o segundo semestre de 2024 e de manter diálogo constante com Kassab, o partido nunca chegou a formalizar sua pré-candidatura.

A ausência de uma definição contrasta com o movimento de outros governadores que se colocam no jogo presidencial, como Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, que já promoveram eventos públicos e atuam abertamente como pré-candidatos.

Leite pode ser beneficiado no PSD

Se a desistência se concretizar, a ideia de o PSD liderar uma terceira via com candidatura própria à Presidência se enfraquece, mas não necessariamente morre. Kassab, ao menos de imediato, tende a buscar uma alternativa para ser trabalhada para a chapa presidencial. E o nome de Eduardo Leite (PSD), governador do Rio Grande do Sul, passa a ganhar força, ainda que seu desempenho nas pesquisas não esteja sendo muito animador, ao contrário do que tem acontecido com o paranaense.

De acordo com dados do agregador de pesquisas do JOTA, o nome de Ratinho Júnior, embora ainda não alcance o mesmo patamar de intenção de voto de Tarcísio ou de Michelle Bolsonaro (PL), tem sido o único com crescimento consistente nos últimos meses.

Nas simulações de segundo turno contra o presidente Lula, o paranaense registrou avanço de 13 pontos percentuais nos últimos 12 meses, passando de 25% para 38% de intenção de voto, desempenho superior ao de Tarcísio de Freitas, que cresceu 5 pontos, e ao de Michelle Bolsonaro, cuja variação foi de apenas 1 ponto no mesmo período. Internamente, o movimento era interpretado como um sinal consistente de viabilidade eleitoral.

O resultado colocava Ratinho Júnior à frente de outros governadores com ambições nacionais, como Romeu Zema e Ronaldo Caiado, e evidenciava sua capacidade de atrair eleitores de perfil moderado a conservador, menos identificados tanto com o bolsonarismo mais radical quanto com o lulismo.

Impactos no Paraná

Para além da dimensão nacional, a decisão de Ratinho Júnior também altera o cálculo regional. Como Sergio Moro aparece com ampla vantagem nas pesquisas, com potencial inclusive de liquidar a disputa já no primeiro turno, o sacrifício pessoal de Ratinho Júnior de permanecer no cargo até o fim do mandato miraria manter a relevância de seu grupo político no estado.

Outra ala, porém, defende a possibilidade de uma desincompatibilização no fim de março para que Ratinho concorra ao Senado, o que envolveria um eventual acordo informal com o próprio Moro. Em ambos os cenários, o governador ficaria fora da corrida presidencial.

Embora ele não tenha definido um nome para apoiar, um dos favoritos para liderar a campanha é de seu aliado e correligionário, o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi (PSD).

Curi tem apoio da maioria dos prefeitos. Além disso, mantém bom diálogo com o PT no estado e, nos bastidores, há quem cogite a possibilidade de um pacto com o partido do presidente Lula e da ministra Gleisi Hoffmann, cujo berço político é o Paraná. Embora o PT esteja mais inclinado a apoiar a candidatura de Requião Filho (PDT), tanto Curi quanto o PT e Gleisi têm em Moro um inimigo em comum.

Uma aliança em torno de Curi na largada da disputa é vista como improvável, um eventual apoio de uma parte ou de outra a quem quer que passe ao segundo turno contra Moro pode acontecer.

Fora da disputa pelo Planalto, Ratinho Júnior poderá contribuir com esse pacto ao não explicitar apoio ao rival de Lula na disputa pela reeleição ou, até mesmo, trabalhar nos bastidores para ajudar o presidente no estado, segundo fontes com quem o JOTA conversou.

Além da possibilidade de apoiar Alexandre Curi, o governador também avalia os nomes de seu secretário das Cidades, Guto Silva (PSD), de quem mantém muita proximidade. Silva tem como empecilhos a pouca experiência política e a necessidade de se tornar mais conhecido do eleitor. Em termos políticos, essa seria uma das explicações para a permanência do governador no cargo até o final do mandato.

Corre por fora na disputa o ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca (PSD), atual secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável. Greca possui "recall" de outras disputas e é uma espécie de "plano C" do governador.logo-jota

Jota
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