Análise do cientista político Antonio Lavareda no CNN 360° aponta que ação contra o crime organizado no Rio de Janeiro gerou embate político, com maioria das mensagens nas redes sociais desfavoráveis ao governo
Da CNN Brasil
A megaoperação realizada contra o crime organizado no Rio de Janeiro gerou significativo impacto político, alcançando mais de 124 milhões de pessoas nas redes sociais em apenas 72 horas. A ação provocou um intenso debate sobre segurança pública e evidenciou disputas políticas, apesar das autoridades negarem tal dimensão. Os dados são da consultoria DATRIX e foram analisados no quadro "2026 já começou", no CNN 360°, pelo cientista político e sociólogo Antonio Lavareda.
Os resultados revelam que a maioria das manifestações nas redes sociais foi desfavorável a Lula (51,7%), com 43,5% apoiando o governo federal. Inicialmente, cerca de 70% dos conteúdos expressavam posicionamento contrário à administração federal, indicando uma vulnerabilidade na área de segurança pública.
Disputa política e responsabilidades
Lavareda explicou como o público geral dimensiona as esferas de responsabilidade pelo combate ao crime organizado. Dados mais recentes da pesquisa Atlas apontam que 46% consideram os governos estaduais como principais responsáveis, enquanto apenas 2% apontam o governo federal. Outros 43% entendem que a responsabilidade deve ser compartilhada entre todas as esferas governamentais. "Governo federal é importante, é. Mas a quem repousa a principal expectativa da população no combate ao crime são os governos estaduais", explica o especialista.O tema mobilizou diversos governadores, que realizaram uma reunião no Rio de Janeiro para discutir medidas de enfrentamento ao crime organizado. "Numa situação dessa, para envelopar um conjunto de sugestões que os governadores deram de mais contundência no combate ao crime, Consórcio da Paz é um nome, no mínimo, inadequado", destacou Lavareda. Contudo, ele considera que apesar do nome, foi uma boa "jogada de marketing" dos governadores.
O governo federal, por sua vez, tem buscado participar ativamente do debate através de pronunciamentos sobre o enfrentamento do ecossistema financeiro das organizações criminosas e da PEC da Segurança.
"A esquerda brasileira, também de outros países, tem na questão da segurança e do combate à violência uma vulnerabilidade histórica, mas o cidadão entende as órbitas, quem é responsável, as competências como se estabelecem", disse.
Para ele, será necessário esperar as próximas pesquisas para medir o impacto da megaoperação na popularidade de Lula.
Cenário econômico e perspectivas para 2026
"A questão da violência, do combate ao crime organizado, dificilmente terá centralidade nas eleições do ano que vem. Pelo menos a nível presidencial", avalia o especialista. Citando outros casos da América do Sul, como as eleições na Argentina, ele explica que as eleições presidenciais devem ser resolvidas na dimensão da economia. "Quem é que tem mais capacidade de fazer o Brasil crescer? É isso que todas as pessoas querem, em última instância", diz Lavareda.Em meio a tensões na área de segurança, Lavareda destaca dados recentes da pesquisa Quaest que apontam oportunidades e ameaças na campanha à reeleição de Lula e caminhos que podem ser traçadas pela oposição.
Em uma das questões, o levantamento aponta que o Brasil está indo no caminho errado para 56% dos entrevistados - 38% consideram o caminho certo. "O grande problema que o governo tem é que o brasileiro não entendeu o significado do Lula 3. É a grande vulnerabilidade e no ano que vem será um problema de bom tamanho para a reeleição", disse.
Por outro lado, a pesquisa Quest indica que 43% dos brasileiros acreditam em melhora da economia, contra 35% que preveem piora. "Na expectativa da população, o otimismo é majoritário quanto ao ano que vem, de que a economia vai melhorar", disse o especialista.
Lavareda destaca que esta percepção pode ser alimentada por dados econômicos recentes do IBGE, como os que mostram o menor nível de desemprego histórico, em 5,6%, aumento da massa salarial e o maior rendimento médio mensal das famílias. "Mas fica faltando à população conectar uma coisa com a outra e esse é o desafio do governo Lula para o ano que vem".
CNN Brasil
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/analise-o-impacto-da-megaoperacao-no-rj-sobre-o-governo-lula/




